25 de maio de 2016

SE FOSSE SÓ ISSO



Nei Duclós

Se fosse só isso, o detalhe de uma cena
de um certo dia, tudo na superfície
e ficássemos quites com o desejo
e assim mesmo duvidaríamos
que existisse algo mais profundo
sabendo que é impossível viver
só com o que temos e devemos contar
com o impossível, nosso sonho

Mas o fôlego exige o esforço que justifica
sua exigência, a respiração mais longa
e o corpo que se estende por enigmas
além do inverno e do outono, quando o verão
renasce sem seguir o calendário e surge
a visão do amor, essa ilusão provisória
a nos fustigar as pernas cheias de preguiça
para sair do limite imposto pelo desperdício

Não é só isso e custo a entender os gestos
Nem desconfio porque ficas, insistes
depois que todos foram embora e me pergunto
até quando vai demorar esse rodeio, a dança
das cadeiras das palavras que me cercam
vindas da tua boca, aos goles de um mergulho
até cair a ficha e eu me demorar em teus olhos
e enxergar então o que há muito estava escrito


RETORNO - Imagem desta edição: Cécile de France no filme En Équilibre (2015), de Denis Dercourt.

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