8 de abril de 2017

O DESAFIO

Nei Duclós

O DESAFIO

Nas Diretas já Mino Carta me entregou um calhamaço da cobertura do comicio da Sé. Estava desesperado. A revista precisava fechar e só tinhamos meia hora.
- Transforma isso aqui numa coisa legivel, disse ele.
Criei a costura do texto dizendo que o evento de um milhão de pessoas fora um teste politico para os principais envolvidos. Enquanto narrava o desafio de cada um fui desfiando os acontecimentos levantados pela reportagem.
Escrevi furiosamente e Mino arrancava cada lauda da minha máquina quando eu chegava na ultima linha e ia passando um pente fino com a caneta. Gostou, publicou.

Foi quando descobri que eu não era mais copy desk. Era editor de texto. Já podia ser chamado pelos meus pares paulistas de Puta Texto, espécie de condecoração do ramo.

COPY

A melhor profissão do mundo era a do copy desk. Não precisava sair à rua, ser "jornalista", atuava nos bastidores. Não assinava matérias, prescindia da notoriedade. Confundia-se com móveis e utensílios da redação. Em compensação, tinha carta branca dos editores para dar cascudo em repórter. Era divertido.

LONGEVO

Quando completei uns 200 anos de profissão sempre tinha um foca perguntando:
- O sr é jornalista?
- Não, eu respondia invariavelmente.
Isso dava um alívio.

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