20 de abril de 2017

SÉRIES QUE ERRAM



Nei Duclós

TENTEI VER ALGUNS EPISÓDIOS DE Veep, sobre bastidores da política presidencial americana com a Julia Louis-Dreyfus, que estava ótima em Seinfeld. Achei apelativa e grosseira, feita para chocar, forjada, com baixarias explícitas ditas em ambientes que deveriam ser sóbrios e sérios. Acham graça nisso e até dão prêmios, mas eu não engoli. Outras séries começam bem e decepcionam como na terceira temporada de Better Call Saul, cheio de chatices como o pentelho do irmão de Saul, o Chuck e suas paranoias elétricas e o velhão gangster brincando de seguir os criminosos numa sequência besta de aparelhinhos eletrônicos rastreadores. Mas pode haver surpresas. As duas temporadas anteriores foram ótimas.

Saul pode ir pelo mesmo caminho do Feed the Beast (Alimente a fera), que o Netflix teve a manha de colocar a única temporada sem avisar que a série foi cancaleada. Ela é cópia da produção dinamarquesa Bankerot. Americanos não suportam a existência de outros países. Precisam plagiar o sucesso alheios (chamam de refilmagem mas é chupação pura e simples). A série começou com 1 milhão de telespectadores nos EUA e acabou com 200 mil, e isso foi fatal. Onde estão os erros? Em todo lugar, apesar da caprichada produção e a esforçada performance do elenco.

David Schwimmer é o bobão de sempre, apesar de quase ter se recuperado na série de OJ Simpson, onde se saiu bem num papel dramático. Mas neste roteiro ele é o corno absoluto que o “melhor” amigo traça sem dó, servindo-se da esposa dele (que morreu num acidente), seduzindo também a namorada, podendo ser até o pai do garoto que sobrou do casamento de David (que interpreta um sommelier, o babacão provador de vinhos), e que ele venera. Ou seja, não sobra nada para o bobalhão enquanto o outro esperto faz todo tipo de estrepolias, se envolvendo com a máfia e colocando todos em perigo.

Jim Sturgess, o garotinho cool de Across the universe, não tem biótipo nem aplomb para fazer um chef descolado. É apenas um gurizão qualquer que ganhou uma barba para ver se convencia. Mas o pior não é a situação desesperadora de perdedores dos dois amigos de infância, mas o descuido do roteiro em relação aos detalhes,. Os personagens desconhecem fatos óbvios e fingem surpresa quando descobrem. O mafioso mata meio mundo, incluindo policiais, e jamais é perseguido, vive no bem bom. O garoto traumatizado que ficou mudo tem comportamento normal de quem vive falando e também não convence. E há também concepções forjadas de politicamente correto, com a esposa negra do branquelo, a namorada latina etc. Tudo muito fake.

Tudo acaba num fogaréu. Foi a maneira de acabar com a série, que entrou num beco sem saída. Restaurante chic no Bronx? Não colou. Ou seja: não fazer sucesso não significa que seja ruim, mas neste caso é. E fazer sucesso, como em Veep, não quer dizer nada. Ainda estão insuperáveis as séries Wolf Hall, Downton Abbey , Breaking Bad e Mad Men.


Nei Duclós

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