16 de julho de 2017

REPARTIR



Nei Duclós

Aprendi a repartir ainda na família
na mesa com irmãos, primos, tias
além da contribuição das visitas
porções que pai e mãe providenciam
fome sob sujeição para não haver briga

Depois na revolução, com hippies, marxistas
e também colegas e amigos sem ideologia
escasso era o pão no reduto das repúblicas
havia ainda o cigarro, o almoço, a bebida
tesão das conversas que jamais terminam

Mais tarde ao juntar nenhuma economia
ao amor que nasceu no tempo de conflitos
estávamos na mão e o muito pouco era tudo
dividíamos para que houvesse sobrevida
Época heroica de onde nasceram os filhos

Mais importante foi repartir a razão na política
ceder para manter o tom que nos civiliza
e avançar com ideias quando fosse possível
no rodízio considerado sempre uma utopia
mas que nos ampara no caos que acabou vindo

Hoje repartimos a desilusão como pão dormido
intragável refeição nas ruínas das promessas
mas temos a impressão que vamos sair dessa
pois herdamos um coração, a fonte solidária
mesmo que impere o não, é só o que interessa


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