3 de agosto de 2017

SOLTURA



Nei Duclós

Neste deserto em que me reservo
Jogado que fui pelo destino
Sem a infima gota de consolo
Que caberia a um homem em seu exílio
Prisioneiro do passado mais remoto
Escolhas da mocidade sem proveito
E que agora cumpre pena de alma exposta
Da qual se nutrem os répteis da rotina

Lanço minha voz, rouquidão silente
Inaudível em todos os apriscos
Exigindo soltura de papel e timbre

Espero que me escutes, joia longínqua
Beduina de uma tribo já extinta
E que guarda o cântaro, até a borda
Para a sede que me dói por ser distante
O amor que ausente não responde

Musa perfeita, trilha de sandálias
Que um dia descalçaste sob a tenda
Note a intensa comunhão de areia
A qual fui punido por te ver aceita

Solte as águias que cultivaste alheia
Em teu olhar, sol de um tempo firme
Combine a estação das nuvens peregrinas
Com a chave que trazes em tuas mãos vazias


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