30 de novembro de 2017

PASSAGEIRA DO CAOS



Nei Duclós

A palavra viaja do caos,
a percepção antes do verbo
Para a síntese e a transparência, o poema
Que no desfecho traz a marca da origem, a diversidade
No rumo do seu destino, a clareza

Poesia é o meio do caminho desse movimento
Habitada pela bagagem das suas fontes
Galopa enxuta para o sol que nos instaura

Depois ela volta no rastro dos seus passos
Para se misturar à tensão do incriado



FÔLEGO



Nei Duclós

Tudo foi escrito
Como o cosmo lotou o próprio acervo
Não cabem mais palavras
Nem estrelas no espaço do consenso

As esferas estão plenas de si, como o verbo
Que não enxerga terra após o vento
Quem poderá suprir o sofrimento
De calar-se depois desse expediente?

Não creio no início ou no desfecho
Qualquer limite imposto na Escritura
Palmilho a superfície do mergulho
Algum peixe quem sabe vem do fundo

São os poemas, espécie sem o cânone
Que fazem respiração no boca a boca
No exangue universo já sem fôlego
Que buscava ar por ter preenchido o sonho


CONSTRUÇÃO

Nei Duclós



Experimento o que a linguagem me surpreende
Enquanto navego no ignoto mar do Mesmo
Sou náufrago de uma ilha sem sossego
Construo um barco, onde caiba um continente

MORADA




Nei Duclós


Ganhei de presente o coração da palavra
Talvez seja minha real morada
Que pulsa quando pouso e me completa
Por isso não minto quando apronto
coisas de poeta

Só consinto a frase ou verso,
comboio de uma vida
que no amor se expressa

29 de novembro de 2017

TODOS OS FAROESTES EM GODLESS






Nei Duclós


Impregnada de clássicos do gênero, o faroeste, Godless, a série limitada da Netflixx de sete episódios de uma hora em média cada um, inova com fundamentos. Não parte para a ruptura sem prestar homenagens aos grandes como John Ford, Fred Zinnemann, John Sturges. Nem muda o foco de maneira aleatória, pois ao destacar o papel das mulheres na colonização do oeste obedece a uma linhagem feminina da coragem que vai deste Johnny Guitar, com Joan Crawford sendo a leoa que se defende e ataca, até a Grace Kelly que é decisiva em High Noon, pois ela é quem resolve a parada no duelo com o facínora.

A série, criada por Scott Frank, impressiona pela narrativa bem costurada, cenários espantosos e a qualidade geral do design de produção, em que cada detalhe é levado em consideração como se estivesse em primeiro plano - e está, pois em cinema, onde tudo é feito para ser visto, não existe o tal "pano de fundo", que faz parte do teatro.para ajudar no clima da peça. Num filme tudo está na fuça do espectador e tudo se reporta à Sétima Arte. Por isso Godless vale muito.



O desfecho da trama, o tremendo tiroteio em La Belle, a cidade criada em torno de uma mina de prata que explodiu com todos os homens e deixou apenas as mulheres tomando conta da cidade, faz parte agora da antologia não só do gênero, mas de toda a história do cinema. Não só pela violência, pela contundência de mulheres disputando pau a pau (para abusar de uma expressão antiga) com a bandidagem interminável. Eram 30 bandidos, ,mas parece que são 300, ou seja, obedecem aos exageros da imprensa local, que arruma a cama da cidade ao denunciar que nela está residindo o objeto de desejo do grande vilão, interpretado de maneira soberba e sinistra por um irreconhecível Jeff Daniels. que persegue seu filho adotivo, Roy Goode, interpretado por Jack O'Connell, por sua vez acoitado pela bela e talentosa Alice Fletcher, no papel da viúva armada Michelle Dockery.

Está tudo lá: a fazenda á mercê dos perigos, a cidade cobiçada pelas empresas mineradoras, as prostitutas e os matadores, os negros da aldeia próxima, que são ex-combatentes da guerra e se transformam em lavradores. E os casos amorosos dentro da diversidade, como o casal de mulheres, o jovem ajudante de xerife com a violinista negra, o xerife cego com a viuva de dois maridos, o índio fantasma e seu cão, a velha índia feiticeira (interpretada por Tantoo Cardinal. Tudo pontuado por grandes chacinas, como se estivéssemos no clima deste século em que a matança coletiva toma conta do noticiário.

Custei a reconhecer Jeff Daniels como o brutal chefe da quadrilha. Normalmente fazendo papéis light ele assusta na crueldade, concentração e falas. É um sujeito liso, esperto, criativo e impiedoso. Um papel que certamente lhe trará os principais prêmios.

Godless: corre bala no velho Oeste. Desta vez as mulheres são em maior número. E são exímias pistoleiras, sem as antecessoras fake de outras experiências em que a protagonistas eram representadas de maneira supericial. Essas de Godless, a terra sem Deus que espera em vão a vinda de um pastor, substituído pelos falsos profetas, tem consistência e fazem chorar. Grande série.

27 de novembro de 2017

GANHAR DINHEIRO



Nei Duclós

É perda de tempo arengar sobre assuntos variados na campanha política. Os candidatos devem se concentrar num tema que é decisivo na vida de todo mundo: ganhar dinheiro. Por ser importante é tido como coisa feia. Está contaminado pelos discursos ideológicos (a velha conversa sobre capitalismo x socialismo), corporativos (excesso de concentração de renda tira o ânimo de qualquer um), além das falsidades da auto ajuda misturada à moda do empreendedorismo.

Ganhar dinheiro é o que pega. Se o Estado deixar as pessoas criar seus nichos de sobrevivência, sem criminalizar os negócios arrecadando exorbitâncias em tributos, taxas e burocracias, se cuidar da segurança para que ninguém caia nas armadilhas do crime organizado que vende proteção como as velhas máfias e enxuga os lucros em sucessivos ataques, e se houvesse formação adequada - falo em alfabetização em letras e números, não em escolas voltadas para gerar empresários - então será possível uma saída.Quem sabe os candidatos a presidente se concentrem nisso em vez de se entre devorarem com suas biografias, que não interessam a ninguém?

Esse é um assunto que tomou conta de boa parte da minha vida profissional, pois trabalhei em revistas de negócios como a Senhor, de SP, a Empreendedor, de SC, fiz frilas de eventos corporativos para a revista Visão, fiz reportagens e centenas de entrevistas para o programa Sala do Empresário, de SP, sou responsável há anos por uma newsletter de uma empresa de contabilidade, trabalhei na criação de campanhas publicitárias, lancei veículos de jornalismo e participei por uma década da cultura industrial convivendo com quadros especializados em economia, comércio exterior, inovação etc. na Fiesp, onde fui editor da revista quinzenal Notícias Fiesp/Ciesp, focada no chão de fábrica e nas soluções de sobrevivência empresarial;.Além de ser filho do Seu Ortiz Duclós, que fundou a bem sucedida Casa do Pescador, sustentou a família com seu tino comercial, chegando até a vender o peixe que pescava nos seus acampamentos, entre outras iniciativas,

Reuni minhas impressões e algum conhecimento no ebook CRÔNICAS DE NEGÓCIOS, que está disponível para venda. Basta entrar em contato comigo pelas mensagens do Twitter ou face, ou pelo email neiduclos@gmail.com. É um PDF que será enviado na velocidade da luz, com ´textos sobre o candente assunto. Viaje nessa coletânea de histórias e observações tiradas da vivência e do árduo ofício com as palavras.