24 de novembro de 2017

OLHOS DE MARFIM



Nei Duclós

O abraço que fica não comporta
o sacrifício do amor que parte
Ficamos com o tempo, vício dos dias
repasto da memória indissolúvel

Cativamos as sobras do crime
para alimentá-lo entre as cobras do martírio
Chamam de destino
mas foi apenas o cochilo divino

Não me conformo ter fé depois de tanto dano
Não fosse o ceticismo outra mera liturgia
eu já teria sucumbido

Mantive o limbo dentro de mim
mesmo que já não exista
Por isso esses olhos de marfim
roubado do assassínio dos animais gigantes

Não se aproxime
Vi perto demais a luz
que não combina com a ilusão de estar vivo

Falo pelo meu perfil
que se destaca no mais puro deserto
de um devastado campo de trigo


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